A poesia no ensino de biologia pode parecer, à primeira vista, uma combinação improvável. Mas é justamente nessa fronteira entre razão e sensibilidade que nascem novas formas de aprender. Um estudo publicado na Revista de Ensino de Biologia da SBEnBio revela como a leitura de poemas e textos científicos, quando colocados lado a lado, podem fomentar interações ricas e profundas em sala de aula.
Uma unidade didática interdisciplinar sobre a fecundação
A experiência descrita no artigo “Sobre quando a Biologia e a poesia se encontram” foi realizada em uma turma do ensino médio técnico, no Rio de Janeiro. O tema trabalhado foi a fecundação humana — mas, em vez de começar com definições e esquemas, a aula começou com o poema Eros e Psique, de Fernando Pessoa.
A proposta foi dividida em três etapas complementares:
Primeiramente, os alunos realizaram a leitura e interpretação do poema, relacionando trechos às etapas da fecundação;
Em seguida, promoveram uma discussão em grupo, com apoio do professor, para construir uma ponte entre as imagens poéticas e os conceitos científicos;
Por fim, elaboraram uma produção coletiva de texto explicativo, guiada pela mediação do docente.
Assim, a sequência didática proporcionou um percurso completo — da emoção ao conceito, da linguagem simbólica ao entendimento científico.
Mais do que metáforas: como a mediação favorece o entendimento científico
Durante a discussão, os alunos mobilizaram conhecimentos prévios. Além disso, com o apoio do professor, ajustaram suas interpretações até que os conceitos centrais da biologia emergissem com clareza. Ou seja, o processo de aprendizagem se fortaleceu à medida que dúvidas, escuta e diálogo foram valorizados.
Essa experiência representa, na prática, o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal, proposto por Vygotsky. Trata-se do espaço entre o que o aluno já sabe e o que pode aprender, desde que haja uma mediação adequada.
Por que usar poesia no ensino de biologia?
Porque o conhecimento científico não precisa ser frio ou distante. Pelo contrário, ele pode dialogar com a sensibilidade, com o simbolismo e com o afeto. Dessa forma, quando bem planejada, uma sequência didática interdisciplinar:
estimula a criatividade e a reflexão crítica;
favorece a apropriação conceitual sólida;
desenvolve competências de leitura, escrita e colaboração.
Além disso, permite que os alunos expressem suas compreensões de forma mais pessoal, o que favorece o engajamento e o envolvimento com o conteúdo.
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Um convite à experimentação poética em sala
Que tal transformar uma aula sobre genética, ecologia ou botânica em um espaço de criação poética e investigação científica ao mesmo tempo? A experiência descrita no artigo mostra que isso é possível — e desejável.
Portanto, ousar unir ciência e arte pode abrir portas para aprendizados mais profundos, mais humanos e mais memoráveis.